1 de julho de 2010

Dizes sempre o mesmo.
De tanto mudares o discurso, conheço-os todos, e agora sei que te repetes, te repetes, te repetes até acreditares que acredito em ti.
Sento-me, pois. Aqui me tens, à tua frente, a fingir que me debato entre o que sinto e o que queres que sinta.
Apeteces-me.
Apeteces-me tanto.
Maldito desejo que me amaldiçoa.
Odeio-me.
Não te amo, não te amo, pensa o que quiseres: que não temos nome, que te oiço, que sou insegura e meiga e frágil e temerosa.
Pensa o que quiseres.
Pensa por mim, actor de terceira, poeta que rouba as palavras dos outros como quem aluga um fato para ir a uma cerimónia onde não pertence.
Não devias ter voltado.
Não devia estar aqui, agora, contigo, outra vez.
Já me partiste o coração quantas vezes?
Uma.
Uma vez, homem, uma vez e bastou. Que queres ainda?
Um recomeço? Um segundo take? Não, o que queres é falar sobre ti. Tu, tu, tu, sempre tu, o centro do universo, do teu universo.
E do meu.
Nunca vens sozinho. Nunca és igual. Tens tantas formas, tantas expressões – ai amo-te, maldita seja eu – amo cada uma das tuas versões, cada um dos teus esgares, cada uma das tuas formas.
És cruel. Matas-me e ressuscitas-me para me matares outra vez.
Não te amo. Repara como desvio a atenção para o homem que toma duche aqui ao lado. Seria capaz de o beijar, de o envolver – toda eu braços e coxas e seios e ventre e carne acesa –, seria bem capaz de amá-lo à tua frente.
Talvez te doesse como já me doeste tantas vezes. Talvez o ciúme te queimasse por dentro e te beliscasse essa meiguice, essa gentileza com que me tratas agora.
Dóis-me.
Não te amo, não te amo, não te aproximes, não me olhes assim.
Soçobro.
Por Deus, diz que me amas!
Sou uma anedota de vulnerabilidade.
Se me tocas…
A tola aqui sou eu, uma marionete nas tuas mãos.

[As tuas mãos… as tuas mãos… se me tocas…]

Sem comentários:

Enviar um comentário