1 de julho de 2010

Senta-te. Falaremos sobre mim.
Não precisas saber o meu nome. Não precisamos de nomes. Somos apenas nós. Não te contarei nada que os nossos olhos não tenham já visto. Não te direi nada que o nosso coração não tenha já sentido. Não te sorrirei sem que os nossos lábios antes se tenham sorrido.
Diremos apenas palavras e tu bem sabes que as palavras não valem nada.
Olho-te.
Gosto de te olhar. Há em ti a doçura e o medo, a ternura e a solidão. Não me perguntas se vim sozinho.
Persegue-te o meu outro eu. O que te segreda ao ouvido que não vim só. Hoje sou um vezes um. Mas a ti parecem-te sempre dois. O lado A e o lado B. A maça lustrosa e a maçã podre. O sorriso e a lágrima que fingirás não ver.
E tentas, tentas tantas vezes. E eu nunca sei se consegues. Nunca poderei saber.
Mas tentas compreender. Ou aquilo a que eles chamam compreender que para ti, por vezes, é apenas ouvir.
E tentas ouvir. E sempre que tentas apetece-me beijar-te. Porque há tão poucos a tentar. Tão poucos.
E de repente o pensamento foge-te para o vizinho do lado, para o barulho do esquentador que te leva a imaginá-la nu no chuveiro. Não tens medo. Sacodes o pensamento. Voltas a mim.
Não nos conhecemos. Nunca poderemos conhecer-nos. Mas olhamo-nos muitas vezes. Talvez demasiadas.
E eu escolhi ser olhado por ti. Alguém escolheu que olhasses por mim. Tu não sabes e eu finjo não saber. Nunca te falarei das minhas ideias loucas. Temo que as achasses uma tolice. Reformulo. Temo que me aches uma tolice.
E logo agora que eu gosto tanto de ti, logo agora que o teu abraço se me cola à pele e me diz que estou vivo. Logo agora que o meu coração chama por ti.
Logo agora tinhas de pensar que te amo.

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